Reparar: da teoria à prática

No ano de 2021, a CEP marcou mais um passo na promoção do R da Reparação. Contando já com uma experiência de quase 6 anos a organizar o Repair Café Lisboa e a apoiar a sua replicação noutras localidades do país – Porto, Ermesinde, Beja, Mértola – achámos que era o momento de fazer algo mais por esta estratégia tão importante numa economia circular. 

Desta forma, através do financiamento do Fundo Ambiental e em parceria com a Cascaisambiente, desenvolvemos e implementámos um projeto totalmente dedicado à promoção da Reparação. Em Portugal não têm sido feitos os esforços necessários para fomentar a utilização de serviços e profissionais reparadores, e para promover a reparação comunitária e a “autoreparação”. Mas estas são ferramentas empoderadoras que nos fazem voltar a ganhar algum controle sobre os nossos objetos quando estes se avariam, e que importa valorizar. 

Sabendo-se pouco sobre este setor e sobre as perceções que as pessoas têm relativamente à reparação, decidimos aproveitar o projeto para preencher essa lacuna, e lançámos um inquérito online. 

Decidimos focar-nos apenas na reparação de EEE (equipamentos elétricos e eletrónicos), pelos desafios a eles associados. Por um lado, estes produtos utilizam matérias-primas não renováveis e por vezes escassas; por outro, quando se tornam resíduo, podem ser problemáticos se não forem corretamente reciclados, devido nomeadamente à sua toxicidade. 

Obtivémos 354 respostas válidas ao nosso inquérito. 78% foram de mulheres. 55% dos participantes residiam em Lisboa. Os resultados não podem ser extrapolados, uma vez que não apresentam significância estatística. No entanto, consideramos que é um primeiro passo para compreender melhor a relação das pessoas com os serviços/profissionais de reparação e como estes podem ser promovidos. 

Um dos resultados mais relevantes do inquérito foi a importância que a reparação apresenta para a esmagadora maioria dos inquiridos (94%). Mas, apesar deste número elevado, apenas 42% dos inquiridos diz utilizar serviços de reparação.

O que estes resultados mostram, em pequena escala, é que a reparação é uma evidência na teoria mas não na prática. À pergunta posterior (“Quais os principais obstáculos à reparação?”), obtivemos três respostas principais: falta de conhecimento sobre como reparar os objetos; falta de mão-de-obra qualificada aliada a uma falta de conhecimento sobre a localização de lojas e serviços de reparação; e, por último, o preço elevado do serviço. Em contrapartida, como medidas que poderiam mitigar os obstáculos referidos, os participantes elencaram: mais conhecimento sobre a reparação deste tipo de equipamentos; formas de localizar facilmente os serviços e reparadores locais; e diminuição do custo das reparações.

Estes resultados, apesar de não serem extrapoláveis para um contexto mais geral, dão-nos pistas sobre as perceções e dificuldades que as pessoas têm relativamente a esta temática.

É preciso fazer mais!

Foi neste sentido que, no decurso do projeto, foram implementadas um conjunto de atividades paralelas ao inquérito. Estas demonstram que através da organização de Repair Cafés (promovendo a reparação comunitária), do mapeamento das lojas e serviços de reparação e sua disponibilização online e gratuita (mais de 4800 visitas em 4 meses) e da criação de um site com conteúdos totalmente dedicados ao tema, é possível promover a reparação e colher benefícios no que toca ao desenvolvimento social e económico das comunidades locais.

A CEP considera que este projeto foi, portanto, um bom primeiro passo no caminho que quer percorrer e irá continuar a divulgar a reparação e a sua importância numa economia circular em Portugal.